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Dom Pedro Conti |
Artigo Dominical do Bispo de Macapá Dom Pedro Conti.
Por Pascom
Um
rei do Oriente trouxe de uma viagem em terras longínquas uma meridiana
para os seus súditos que ainda não conheciam as horas.
Aquela invenção mudou a vida das pessoas. Olhando a meridiana, todos
aprenderam rapidamente a dividir e a organizar as horas do dia.
Começaram a ser diligentes, pontuais e ordenados. Dessa maneira, em
poucos anos, o reino prosperou e ficaram ricos. Quando
o rei morreu, os súditos, agradecidos, decidiram erigir um monumento
que o lembrasse para sempre. A meridiana, também, era o símbolo e a
origem das suas riquezas e, portanto, resolveram construir ao redor dela
um magnífico templo com a cúpula de ouro. Quando
acabaram de fechar a cúpula, os raios do sol não alcançaram mais a
meridiana e assim aquele fio de sombra, que havia marcado o tempo, em
todos aqueles anos, desapareceu. Em pouco tempo, alguns cidadãos
deixaram de ser pontuais, outros faltaram com a diligência
e outros voltaram a ter uma vida totalmente desordenada. Cada um
resolveu andar pelo seu caminho, fazer as coisas quando e como bem
queria, sem mais nenhuma atenção para os outros. O reino todo foi para a
ruína.
A
moral da história é simples. Aquelas pessoas deram muito valor à
meridiana e se esqueceram da luz do sol que, de fato, fazia
funcionar o relógio mais antigo do mundo. Isso acontece quando nós não
buscamos o sentido mais profundo da vida e dos nossos conhecimentos.
Ficamos satisfeitos com as aparências e perdemos a substância. Ocorre
também com as pessoas e com as situações que vivemos.
O
evangelho deste domingo é a continuação do trecho proclamado na semana
passada. Jesus ainda está em Nazaré e o povo fica encantado
com as suas palavras. Devem ter pensado: se, como dizem, este homem
tem poderes extraordinários, ele é dos nossos e vai fazer o que nós
queremos. A eles não interessava quem era Jesus de verdade, quem o tinha
enviado e por quê. Queriam curas, milagres, nada
de questionamentos ou compromissos. No entanto Jesus tinha muito mais
para lhes dizer. O amor de Deus que ele ensinava não podia ficar
exclusivo para uma só aldeia, para um só povo. O Reino de Deus que ele
anunciava e resgatava era, e é, muito maior porque
é para todos. Com efeito, Deus não distribui privilégios porque quer a
fraternidade. Não distingue ninguém com vantagens e regalias porque quer
a partilha e a comunhão. O amor do Pai que Jesus manifestava devia
chegar até os confins da terra. Todos os pobres
e sofredores deviam poder ouvir e acreditar na boa notícia que o Filho
amado vinha comunicar. Todos deviam poder participar da alegria dos
pequenos aos quais sempre são desvendados os segredos de Deus.
Se
os moradores de Nazaré tivessem acolhido as palavras de Jesus poderiam
ter sido os primeiros praticantes do Reino, os primeiros
construtores da paz e da justiça. Um exemplo para todos. Mas não foi
assim, não quiseram acreditar no profeta que tinha saído deles e que
agora os convidava a segui-lo numa missão tão grande, tão nova e... tão
perigosa. É sempre muito arriscado querer mudar
o mundo e dizer coisas diferentes. – Quem ele acha que é? – devem ter
pensado – Melhor acabar logo com este exaltado antes que faça maiores
estragos com as suas ideias e o seu modo de agir! -. A tentativa de
matar Jesus, jogando-o no precipício foi somente
uma antecipação do que um dia irá acontecer com ele e o que sempre
muitos tentam fazer quando a luz e a esperança do Evangelho interferem
nos seus planos tenebrosos de orgulho e de poder.
“E
a luz brilha nas trevas e as trevas não conseguiram dominá-la” escreve
São João no prólogo do seu evangelho. A luta entre a luz e as trevas
continua também na vida de cada um de nós. Quantas vezes achamos melhor
apagar esta luz. Mas o resultado é desastroso. Sem a luz de Deus, sem a
luz da fé e do amor só podem ganhar o mal, a desordem e a confusão.
Como naquele reino onde, sem a luz do sol, a
meridiana parou de funcionar. E a ruína foi grande.
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