sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Voz do Pastor: A pedra filosofal

Certa vez, um alquimista decidiu gastar toda a sua vida em busca da pedra filosofal, isto é, aquela única e raríssima pedra que, assim ele acreditava, tinha o poder de transformar em ouro os objetos de ferro.
 – Vou experimentar com todas as pedras da terra – ele dizia – com certeza encontrarei a pedra que estou procurando.
No início pensava que fosse uma coisa simples e começou a sua busca, cheio de energia e de confiança. Amarrou uma corrente de ferro na cintura e com ela tocava todas as pedras que encontrava no caminho. Andou muito, em todas as direções e em todos os lugares. Quando encontrava uma pedra, pegava-a na mão e a tocava com a corrente de ferro. Esse gesto tinha se tornado toda a sua vida e o repetia continuamente.
Assim passaram os anos e o alquimista já estava bem velho e cansado, quase uma sombra que caminhava. Aqueles que o encontravam naquelas condições, achavam que ele tinha enlouquecido. Certo dia, porém, quando passava por um vilarejo, um menino se aproximou dele e lhe perguntou:
 - Senhor, onde encontrou a corrente de ouro que tem na cintura?
O alquimista estremeceu: a corrente que antes era de ferro, agora era mesmo de ouro e resplandecia nos seus flancos. Não era devaneio. Era ouro mesmo, mas qual pedra havia realizado aquela transformação? Quando? Onde? Desesperado, bateu na sua cabeça. Estava tão acostumado a tocar as pedras com a corrente de ferro, que nem tinha notado a transformação. Tinha encontrado a pedra filosofal e a tinha perdido. De cabeça baixa, retomou o seu caminho. Estava mais encurvado do que antes, e o seu coração mais cansado do que ele mesmo. A noite estava chegando.
Domingo passado, Jesus nos convidava a procurar o alimento que “permanece até a vida eterna”; e ele mesmo se oferecia como alimento. Neste domingo, repete para nós que ele é “o pão da vida” e que “quem comer deste pão viverá eternamente”. Até quem participou apenas do catecismo da Primeira Comunhão entende que Jesus está falando da Eucaristia, o pão-carne e o vinho-sangue. Nos sinais do pão e do vinho, ele continua a nos doar a sua vida para que nós possamos “ter parte” com ele. A vida eterna, na qual nós cristão acreditamos, somente pode ser a vida de Jesus, porque só ele, ressuscitado, pode nos garantir esta vida.
Este desejo de vida está dentro de nós, dirige a nossa existência. Procuramos sempre algo melhor, que nos permita sair de uma situação para alcançar outra que, justamente, julgamos mais favorável. Por isso, lutamos a vida inteira: para ganhar mais, para sermos mais famosos, para termos mais segurança – sobretudo financeira - em nossa vida. Brigamos para não morrer, mesmo sabendo que este dia chegará para todos.
O que tem a ver Jesus Eucaristia com essa nossa busca incansável? Não posso, neste momento, deixar de pensar em tantos adultos e jovens que passaram pela nossa catequese e receberam Jesus Eucaristia na Primeira Comunhão. Para alguns, infelizmente, foi a primeira e a última, porque pensaram cumprir uma obrigação social, ou algo semelhante. Talvez um costume familiar herdado do passado e nada mais. Passada a empolgação de criança, tomaram outros rumos na vida. Tinham em mãos o segredo da vida eterna e o perderam. Mas existem também outros cristãos, católicos, que ainda participam da Missa, mas não sentem desejo de se alimentar com Jesus Eucaristia. Têm o Pão da Vida à sua frente, mas pensam em satisfazer a própria fome de vida e a p rópria sede de Deus de outras formas.
 Ainda não entendemos que Jesus quer transformar a nossa vida mortal em vida eterna, simplesmente nos alimentando com o seu amor. Ele, que doou a sua vida, quer nos conduzir a doarmos a nossa. Ele quer nos ajudar a transformar as nossas lágrimas em oferendas e as nossas alegrias em fraternidade. Junto com o amor dele, todo gesto de amor humano ganha valor eterno. Nada feito por amor ficará perdido.
Aprender a doar a vida é um “caminho longo”, mas com a Eucaristia, o alimento que não perece, as forças se multiplicam e as esperanças se tornam certezas.
Coitado! O alquimista que havia encontrado a pedra filosofal, na sua distração, a tinha perdido. Acontece ainda hoje com a Eucaristia.
No dia dos pais, pedimos a todos eles um bom exemplo para os seus filhos. A nossa maneira de agir, trabalhar e nos relacionar, revela o que nós realmente buscamos na vida. Todo pai é uma referência para os seus filhos. Não deve se esconder; essa é uma honra e uma responsabilidade ao mesmo tempo. Se lhes mostrar o caminho certo os conduzirá até a vida eterna. Bem alimentados com o único Pão da Vida: Jesus Eucaristia.