Artigo Dominical de
Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá
Depois
de uma longa ausência, finalmente o amado mestre voltou para a sua
vila. Todos o acolheram com alegria e ele quis que logo fosse celebrada a
Festa dos Dons. Muitas pessoas
chegaram também dos vilarejos vizinhos trazendo os seus presentes.
Todos estavam ansiosos para ouvir os ensinamentos do mestre. Ele mandou
colocar os dons no chão, bem no meio do templo, e pediu que o povo se
sentasse todo ao redor. Depois entrou no círculo.
Pegou os dons, um a um, e devolveu aos respectivos doadores, os que
tinham um nome; depois falou:
- Os outros presentes são aceitos!
Continuando o mestre disse:
-
Vocês todos vieram para receber uma palavra. Pois bem, eis o meu
ensinamento: aprendam a distinguir uma atitude inferior de uma superior.
O agir inferior - que se ensina às crianças
e é necessário para a formação delas – é experimentar alegria em dar e
em receber. O agir superior é dar sem criar nenhuma obrigação para quem
recebeu o nosso dom. Aprendam a se desprender das pequenas satisfações,
como aquelas que lhes vêm do pensamento de
ter feito uma boa ação. Empenhem-se a buscar a meta mais elevada: a de
fazer sempre o bem por si mesmo, sem esperar em nenhuma recompensa.
Estamos
chegando perto da festa do Natal de Jesus. No último domingo de
Advento, contemplamos o encontro entre Maria e Isabel. A idosa,
considerada estéril, está para dar à luz
o filho e a virgem está grávida pela graça de Deus. Nada é impossível
para Ele! Não sabemos se Maria levou algum presente para Isabel. Nem
precisava. O grande dom que as duas trocaram entre si, com muita
alegria, foi a simples constatação do comprimento das
promessas do Senhor. Foi o que Isabel disse a Maria: “Bem-aventurada
aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.
Poucas
vezes pensamos que a fé seja um dom que recebemos e podemos oferecer
aos outros com o exemplo de nossas vidas. Nem todos aqueles que irão
falar do Natal, saberão dizer o
porquê da alegria dos cristãos. Somente se aceitarmos ser mais uma vez
surpreendidos pela novidade do amor de Deus, podemos iniciar o caminho
fadigoso, mas compensador, da fé.
Ao
imaginar o Menino deitado no presépio, não devemos sentir somente
ternura, devemos adorá-lo como o maior dom que Deus podia nos fazer: Ele
mesmo, no meio de nós, pequeno, humilde
escondido; sem querer se impor de qualquer jeito, mas oferecendo-se,
como um presente para quem queira ainda abraçá-lo, amá-lo e segui-lo.
Sempre
nos perguntamos, no entanto, se nós cristãos podemos, por nossa vez e
de que forma, oferecer o dom da fé aos nossos irmãos, num mundo que
parece cada vez menos interessado
em receber este presente ou, infelizmente, sempre pronto a
transformá-lo num novo e lucrativo comércio. Não podemos impor a fé, nem
nos substituir à escolha de cada um. A fé será sempre, em primeiro
lugar, um dom do próprio Deus e uma obra maravilhosa do Espírito
Santo. Podemos, porém, seguir o mesmo caminho de Jesus: oferecer este
dom com absoluta gratuidade sem pedir nada em troca, simplesmente
vivendo a alegria de sermos cristãos, de fazer parte dos amigos de
Jesus, os amados que sabem amar.
O
primeiro passo que, sem dúvida alguma, abre a porta da fé - também a
quem ainda duvida - é o exemplo de uma decisão sábia, coerente e humilde
de amar, de ser amigos e solidários,
sem pedir nada em troca, como Maria e Isabel, como o próprio Filho de
Deus no seu Natal, que se oferece, na pobreza e no silêncio.
Numa
sociedade na qual todos nós vivemos com o medo de sermos enganados,
estamos desconfiando até do amor de Deus. Afinal, o que Ele está
querendo de nós? Nada, se pensarmos em
lucros humanos; tudo, se entendermos a possibilidade inestimável de
aprender a segui-lo no caminho do amor.