No período de 2 a 6 de julho, a Igreja na Amazônia vai viver um momento histórico. Novamente os Bispos se reunirão no 10º Encontro da Igreja na Amazônia, considerado um dos mais importantes acontecimentos para o meio eclesial na região. Desde 1952, metodologias, metas e objetivos são tratados nesse encontro, a fim de dinamizar a presença da Igreja na região, traçar rumos e, principalmente, o destino da evangelização. Bispos, coordenadores de pastoral e demais missionários estarão reunidos na “Pérola do Tapajós”, como é conhecido o município de Santarém, trocando, novamente, experiências. O evento é realizado e organizado pelos Regionais Norte I, II e Noroeste, mais a CNBB Nacional. O Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, e o Bispo Auxiliar, Dom Teodoro Tavares, participarão do evento, juntamente com o coordenador de pastoral da Arquidiocese, Monsenhor Raimundo Possidônio da Mata (Cid). É a primeira vez que Dom Alberto participa, porque nas edições anteriores, ele fazia parte do Regional Centro-Oeste. Já o Bispo Emérito, Dom Vicente Zico, participou nos anos anteriores e contribuiu com o evento, partilhando experiências da Arquidiocese de Belém. O primeiro Encontro da Igreja na Amazônia aconteceu na cidade de Manaus, capital do Amazonas, no período de 2 a 6 de junho de 1952. Segundo a assessora da Comissão para a Amazônia, da CNBB, Ir. Irene Lopes dos Santos, antes mesmo de existir a CNBB, a Igreja na Amazônia já se reunia. Mantendo uma periodicidade que alternou, geralmente, entre três e quatro anos, o Encontro da Igreja na Amazônia ganhou notoriedade ao longo do tempo. O último encontro ocorreu em 2007, mais uma vez em Manaus. O primeiro revelou a necessidade que os Bispos da Amazônia sentiam de organizarem-se e expressarem a responsabilidade além dos limites das próprias Prelazias e Dioceses. Deram-se conta de que, separados uns dos outros, não teriam condições de acompanhar os novos tempos. Como conhecedores da região, os Bispos sentiram-se chamados a acompanhar e avaliar os projetos do governo, especialmente o plano da integração e valorização da Amazônia, que levaria à criação da Superintendência para o Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) e ampliaria a área da sua execução para a chamada Amazônia Legal, criada em 6 de janeiro de 1953. O evento de 1972, em Santarém, no Oeste do Pará, teve um destaque na história dos Encontros da Igreja na Amazônia. Nessa ocasião foi lançado o Documento de Santarém, considerado o mais importante documento da Amazônia. “Todos os encontros, a partir de 1972, se voltam para este documento”, explica Ir. Maria Irene. O texto possui as linhas prioritárias da ação da Igreja na região. “Em 1972 se acentuaram os problemas na Amazônia envolvendo a questão indígena, conflitos sociais, entre outros assuntos”, esclarece a missionária. Segundo ela, em todos os encontros são discutidas as proposições desse documento com base em novas perspectivas e realidades, que vão surgindo ao longo dos anos. Em 2012, o Documento de Santarém completa 40 anos e novamente o texto será o foco dos debates. A expectativa é de que o 10º Encontro da Igreja na Amazônia, com foco exclusivo nos 40 anos do Documento de Santarém, reúna um grande número de Bispos e representantes convidados, entre eles o presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, Dom Cláudio Hummes, o vice-presidente, Dom Moacyr Grechi, Dom Erwin Kräutler, Dom Jaime Vieira Rocha e Dom Sérgio Castriani, além dos secretários dos regionais e a assessora dessa Comissão Episcopal, Ir. Irene Lopes dos Santos. Haverá representação de todos os estados da Amazônia Legal. Documento de Santarém
O evento no qual o documento foi elaborado, no período de 24 a 30 de maio de 1972, reuniu 22 bispos das Arquidioceses, Dioceses e Prelazias da Amazônia brasileira. Na época, Santarém era considerada a maior e mais antiga Prelazia do Brasil e tinha como pastor o saudoso Bispo Dom Tiago Ryan. No encontro, foram definidas ações internas de evangelização da Igreja na Amazônia, como formação pastoral para os leigos, atenção aos povos indígenas, além de acompanhamento das questões sociais: conflitos de terra, estradas, entre outros. A partir do Concílio Vaticano II, da Conferência do Episcopado Latino-Americano, em Medellin (1968), e recolhendo a experiência e os anseios das bases, a Igreja da Amazônia escolheu duas diretrizes básicas: a encarnação na realidade, pelo conhecimento e pela convivência com o povo, na simplicidade, e a evangelização libertadora. Ambas orientam a definição das quatro prioridades da Pastoral da Amazônia: Prioridades 1 A formação de agentes de pastoral: “deve considerar, em primeiro plano, os elementos locais, os autóctones. Ninguém melhor do que o homem do próprio meio tem condições para exercer a liderança dentro da comunidade”. 2 As comunidades cristãs de base: o documento cita Medellin (15): “A Comunidade Cristã de Base é o primeiro e fundamental núcleo Eclesial”, “foco de evangelização”, “fator primordial de formação humana e desenvolvimento”. “A paróquia há de descentralizar sua pastoral”. 3 A pastoral indígena: A Igreja na Amazônia está “cumprindo a missão que lhe vem de Cristo e que a impele em busca, preferencialmente, dos agrupamentos mais frágeis, mais reduzidos e mais suscetíveis de esmagamento nos seus valores e no seu destino”. O CIMI, há pouco criado em Brasília, é considerado “órgão providencial (...) a serviço do índio e das missões indígenas”. 4 Estradas e outras frentes pioneiras: “Nesta hora em que a Transamazônica e outras estradas estão empreendendo a integração e o desenvolvimento da vastíssima região em conexão com as hidrovias, novos problemas solicitam nossa atenção e nossas providências”. |
O 10º Encontro | |||
A segunda parte do documento destaca ainda quatro serviços pastorais específicos: a organização dos regionais da CNBB Norte I e Norte II; o intercâmbio entre os institutos de pastoral CENESC (Manaus) e IPAR (Belém); uma assessoria técnica e jurídica às circunscrições eclesiásticas e a integração dos meios de comunicação social na pastoral orgânica da Amazônia.
Perfil do encontro
uma retrospectiva histórica do período de 1972 a 2012, elucidando mudanças, avanços e recuos, que serão bases para uma análise da conjuntura atual da Amazônia.
“Vamos fazer memória à conferência de Santarém, há 40 anos, que representou um envolvimento maior da Igreja nas questões orgânicas, em colaboração com o Estado”, contextualiza Monsenhor Cid. “Desde Santarém, a Igreja se tornou mais conhecedora da realidade da Amazônia, passou a ter um rosto mais amazônico”, explica o religioso. Segundo ele, as palavras do Papa Paulo VI, “Cristo aponta para a Amazônia”, inspiraram ao texto Linhas prioritárias da pastoral da Amazônia. O presidente do Regional Norte II (região da Arquidiocese de Belém), Dom Jesus Maria Cizaurre Berdonces, informou que Bispos de Caiena (Guiana Francesa), da Venezuela e de outros países, participarão do encontro deste ano. Para ele, não basta apenas discutir a questão da violência. “É preciso discutir as causas dela”, ensina. A igreja, na opinião do religioso, tem ajudado a sociedade a refletir de forma crítica. “Os males que sofremos hoje não são coisas mandadas por Deus, e sim frutos da ausência do Estado”, explica. As expectativas de Dom Jesus para o encontro deste ano também são as melhores: “espero que consigamos fazer uma fotografia da Amazônia”. “O Brasil e o mundo ainda não entendem o que é a Amazônia”, avalia. Belém O Arcebispo de Belém informou que participará de todas as atividades do evento, levando a contribuição da Arquidiocese, partilhando, inclusive, as experiências pastorais. Na opinião do pastor da Igreja de Belém, entre os benefícios mais significativos que esse evento já trouxe, até hoje, para a Igreja, desde 1952, está a circulação de experiências e a busca de caminhos comuns para as Dioceses, “pois todos vivemos na mesma realidade amazônica, que hoje inclui muita diversidade”. Segundo Dom Alberto, a partir das ações discutidas no encontro deste ano, “certamente os Bispos procurarão caminhos comuns e maior partilha do que se faz nas Dioceses”. “Mas cada Diocese tem o dever de fazer seu próprio plano pastoral. Nós, por exemplo, estamos no processo da nossa Assembléia de Pastoral e novo plano de pastoral”, explica. O pastor espera frutos do encontro deste ano: “aguardamos uma comunhão sempre mais crescente entre nossas dioceses”. Ele também aponta o que deve ser tratado como uma intervenção de urgência na Amazônia: “a atenção aos desafios religiosos, sociais e econômicos da nossa época, o impulso missionário e as vocações sacerdotais”. Ele explica que é costume que em encontros de Bispos se escreva ao Papa e, por isso, este ano será feita uma carta ao Pontífice, uma mensagem ao povo de Deus, e uma carta aberta às autoridades. Monsenhor Cid, que se pronunciará no segundo dia de encontro, dia 3, explica que este ano será discutida a situação da Amazônia como região de cobiça, a questão da água e o meio ambiente como um todo, buscando respostas sobre como intervir por meio das pastorais. Como segundo ponto, será tratada a questão da urbanização da Amazônia acompanhada de desafios culturais e sociais, violência, entre outros. O terceiro ponto: o narcotráfico. Dom Alberto e Monsenhor Cid explicam que, apesar de se fazer memória do Documento de Santarém, até hoje referência para a Igreja, as realidades mudam e os desafios também. “Os documentos servem para o seu tempo, como contribuição a ser oferecida às Dioceses”, diz Dom Alberto. “Os dois encontros após Santarém trouxeram perspectivas diferentes e o deste ano também apresentará novidades”, acrescenta o Monsenhor. |
Países de Fronteiras | |||||
necessita de uma ação específica e estratégica. As igrejas de fronteira, por exemplo, pretendem fortalecer cada vez mais suas ações integradas a fim de garantir direitos à população da região. Na reunião que ocorreu em 2010, na cidade de Lethem, na Guiana, de 24 a 26 de maio, um compromisso foi assumido pelas igrejas de fronteiras, formadas pela Guiana (Inglesa), Venezuela e Brasil. “Queremos assumir, no caminho da pequenez e na comunhão, o compromisso de fortalecer uma ação integrada para garantir o direito à saúde às populações destas três fronteiras”, concordaram os bispos Dom Francis Alleyne, da República Cooperativa da Guiana; Dom Jesus Guerrero, do Vicariato de Caroní, na Venezuela, e Dom Roque Paloschi, de Roraima, no Brasil, além de religiosos e leigos.
Ir. Maria Irene Lopes, que participou do encontro, disse ter ficado impressionada com a pobreza na Guiana e na Venezuela, especialmente na área da saúde. “Eles (Guiana e Venezuela) se apoiam muito em Roraima, especialmente na questão da saúde”, disse. Irmã Irene visitou, em Roraima, a Casa de Saúde do Índio (Casai), que acolhe indígenas da Guiana e da Venezuela. “As condições da Casai não são boas. Numa sala pequena há mais de 30 redes, que são distribuídas aos índios conforme a etnia. A enfermaria tem apenas uma cama. Um cacique reclamou muito comigo das péssimas condições do local”, conta a religiosa. Segundo a Irmã Irene, a migração e a comunicação também são um desafio muito forte na região. “O povo da Guiana só fala inglês. Os que vão a Roraima em busca de tratamento de saúde têm muita dificuldade de se comunicar por causa da língua”, explica. Para a Irmã, somente a Igreja não consegue resolver os problemas. Segundo ela, é preciso um esforço conjunto dos três países para mudar a situação. “Se ficar só com a Igreja, a ação perde força”, disse. Comissão Episcopal para Amazônia Essa comissão da CNBB é a expressão do compromisso dos Bispos do Brasil, selado no pacto de apoio à Igreja da Amazônia, em abril de 2003. O que distingue a CEA das demais Comissões Episcopais da CNBB (as Pastorais e as Especiais) é a característica territorial. A sua organização é pautada, desde o início, por iniciativas visando ao melhor conhecimento da Amazônia e ao espraiamento da ação da Igreja nela, mas a sua ênfase tem sido posta nas funções propriamente eclesiais ou religiosas, em paralelo ou conexão com o trabalho das demais comissões. São membros da Comissão Episcopal para a Amazônia: O Cardeal Cláudio Hummes (presidente), Dom Moacyr Grechi (vice-presidente), Dom Erwin Kräutler, Dom Sérgio Eduardo Castriani e Dom Jaime Vieira Rocha. Todos os programas e projetos visam sensibilizar os brasileiros frente à complexa realidade dessa região, e favorecer o despertar e o aprofundar da consciência missionária, atendendo ao apelo da Igreja local, com projetos e programas de solidariedade. Programação O 10º Encontro da Igreja na Amazônia inicia com missa na Catedral de Santarém. Após o jantar, acontecem as boas vindas aos presidentes dos Regionais Norte I, II e Noroeste, seguidas do pronunciamento da Comissão Episcopal para a Amazônia e da presidência da CNBB.
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