Certo dia, um
jovem muito pobre, andando na feira, encontrou uma bolsa com dez moedas
de ouro. Agradeceu a Deus pela sorte inesperada e resolveu gastá-las. No
entanto sua consciência pesou e ele achou por bem voltar antes para
casa para perguntar à mãe o que devia fazer com o dinheiro. Apesar da
pobreza total, a mãe não titubeou:
- Volte já ao mercado, encontre quem perdeu as moedas e as devolva!
O jovem
obedeceu. Antes ainda de chegar à feira viu um bom grupo de pessoas
reunidas e um senhor desesperado, chorando a perda do seu dinheiro.
Pediu licença, apresentou a bolsa que tinha encontrado e perguntou se
aquela era a perdida. O homem, rico e avarento, logo reconheceu que era a
sua bolsa e a arrancou das mãos do jovem. Entendeu que por estar na
frente de tantas pessoas devia dar-lhe alguma recompensa. Não quis
fazê-lo e inventou uma desculpa gravíssima. Começou a gritar:
- Ladrão, ladrão, aqui tinha vinte moedas de ouro, onde estão as outras?
Assim a
confusão foi armada; o jovem foi segurado e ia ser entregue ao juiz,
apesar das suas reclamações de inocência. O juiz chegou e logo percebeu a
farsa. Se o jovem tivesse querido ficar com o dinheiro, podia ter
ficado com tudo e não devolver somente a metade. Por isso, o juiz
perguntou por três vezes ao rico:
- O senhor tem certeza que na sua bolsa tinha vinte moedas de ouro?
- Certeza absoluta - respondeu três vezes o rico avarento.
- Pois bem -
sentenciou o juiz - cheguei à conclusão que hoje na feira foram perdidas
duas bolsas com dinheiro: uma com vinte e uma com dez moedas de ouro.
Sendo que ninguém está reclamando pela bolsa de dez moedas decido que
esta seja imediatamente devolvida ao jovem que a encontrou e que se
continue procurando a outra bolsa com vinte moedas. Quem sabe que ainda
esteja por aí.
Coisas de
outros tempos, sem dúvida. Talvez mais humanos. A parábola do evangelho
deste domingo nos fala de um juiz corrupto que, porém, acaba fazendo
justiça a favor de uma viúva por causa da insistência dela. Desta
maneira, o Senhor quis nos ensinar a nunca desistir da oração e conclui
com uma pergunta sempre questionadora: "Mas o Filho do homem, quando
vier, ainda vai encontrar fé sobre a terra?".
Fé e oração só
podem estar juntas. Quando estão separadas é para pensar se uma das
duas, de fato, não esteja faltando. Se não temos fé, se não confiamos
naquele que invocamos, a nossa oração serve somente para nós mesmos. Não
tem ninguém para escutar e acolher o nosso pedido. Do outro lado, dizer
que temos fé, mas nunca invocarmos Aquele que está sempre pronto a nos
escutar, significa ter uma fé vazia e, portanto, também inútil. Este
"deus" não nos interessa.
Eu sei que
muitos não aceitam estas considerações e se desculpam dizendo que têm
fé, mas que, porém, preferem rezar sozinhos. Cada vez mais, a sociedade
de hoje reduz a religiosidade de uma pessoa a uma questão particular.
Cada um acredita se quiser e em quem quiser. Do mesmo jeito reza como
quiser e a quem quiser. Ninguém mais precisa de igrejas, reuniões,
mestres, ministros de culto e pastores. Ou escolhe quem mais lhe agrada.
A tentação de cair neste "reducionismo" da fé e da oração é muito
grande e, vamos ser sinceros, cômoda.
Cada um pode
construir o deus que bem quiser, a sua própria imagem e semelhança, com
as regras decididas por si mesmo, para ter a sua consciência em paz, sem
precisar confrontar-se com outros ou acolher uma Palavra que, para quem
acredita, vem de Deus, mas que os grupos religiosos parecem interpretar
cada um do seu jeito. Uma bela gritaria e uma bela confusão.
Resultado: este
"deus", que afinal sou eu mesmo, cansa porque não tem nada de novo,
nada cobra e tudo deixa passar. Portanto não é ninguém que me aguarde e
se preocupe por mim. Um Deus sem rosto não pode ser um Deus de amor. Com
isso, a oração é a primeira atitude que acaba e logo em seguida a fé
esfria até se apagar. Diferente é para quem conhece bem o seu Deus,
acredita que é amado por Ele e que pode amá-lo em resposta. A oração
pode ser um pedido insistente, o grito de um pobre pecador, mas também
pode ser o louvor e a gratidão de um filho que reconhece a bondade do
Pai. Somente assim a fé continuará viva neste mundo.
Talvez estejamos precisando de algum "juiz" honesto que desmascare as nossas farsas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário