Terceira Pregação do Advento 2012 do Padre Raniero Cantalamessa, OFM Cap
Por Zenti.org
"Eu vou anuncio uma grande alegria"
Evangelizar mediante a alegria
Depois de refletir sobre a graça do ano da fé e sobre o aniversário
do concílio Vaticano II, dedicamos esta última meditação do advento ao
terceiro grande tema do ano, a evangelização.
O papa convidou a Igreja a fazer deste ano uma oportunidade de
redescobrir a "alegria do encontro com Cristo", a alegria de ser
cristãos. Ecoando essa exortação, eu gostaria de falar sobre como
evangelizar através da alegria, procurando permanecer o mais fiel
possível ao tempo litúrgico atual, em preparação para o Natal.
1. A alegria escatológica
Nos evangelhos da infância, inspirado pelo Espírito Santo, Lucas
conseguiu não só apresentar fatos e personagens, mas também recriar a
atmosfera e o clima daqueles eventos. Um dos mais evidentes elementos
desse mundo espiritual é a alegria. A piedade cristã não se enganou
quando deu à infância de Jesus o nome de "mistérios gozosos", mistérios
de alegria.
A Zacarias, o anjo promete "alegria e exultação" pelo nascimento do
filho, e que muitos "se alegrarão" com a sua vinda (cf. Lc 1, 14). Há
uma palavra grega que, a partir deste momento, reaparecerá na boca de
vários personagens de modo contínuo: é o termo agallìasis, que
indica "a alegria escatológica pela irrupção do tempo messiânico". Ao
ouvir a saudação de Maria, o bebê "regozijou-se" no ventre de Isabel
(Lucas 1, 44), sinalizando, assim, a alegria do "amigo do esposo" pela
presença do esposo (Jo 3, 29). O ápice acontece no cântico de Maria:
"Meu espírito se alegra (egallìasen) em Deus" (Lc 1, 47);
espalha-se na alegria tranquila de amigos e parentes ao redor do berço
do precursor (cf. Lc 1, 58) e explode, finalmente, com pleno vigor, no
nascimento de Cristo, na declaração dos anjos para os pastores: "Eis que
vos anuncio uma grande alegria" (Lc 2, 10).
Não são apenas mostras dispersas de alegria, mas uma onda de alegria
calma e profunda, que percorre os "evangelhos da infância" do começo ao
fim e se expressa de muitas maneiras diferentes: no entusiasmo com que
Maria se levanta para ir até a casa de Isabel e os pastores para irem
ver a criança; nos gestos humildes, e típicos da alegria, que são as
visitas, os bons desejos, as saudações, os parabéns, os presentes. Mas,
acima de tudo, a alegria se expressa na maravilha e na sincera gratidão
desses protagonistas: "Deus visitou o seu povo! [...] Lembrou-se da sua
santa aliança". O que todos tinham pedido em oração, que Deus se
lembrasse das suas promessas, era agora realidade! Os personagens dos
"evangelhos da infância" parecem mover-se e falar na atmosfera de sonho
cantada pelo Salmo 126, o Salmo do retorno do exílio:
"Quando o Senhor libertou os prisioneiros de Sião,
parecia um sonho.
Então a nossa boca se encheu de riso
e a nossa língua soltou-se em cantos de alegria.
Disseram assim entre as nações:
O Senhor fez grandes coisas por eles.
Grandes coisas fez por nós o Senhor,
inundou-nos de alegria".
parecia um sonho.
Então a nossa boca se encheu de riso
e a nossa língua soltou-se em cantos de alegria.
Disseram assim entre as nações:
O Senhor fez grandes coisas por eles.
Grandes coisas fez por nós o Senhor,
inundou-nos de alegria".
Maria incorpora a máxima expressão deste salmo quando exclama: "Fez
grandes coisas em mim o Todo-Poderoso". Estamos diante do exemplo mais
puro da "sóbria ebriedade" espiritual. É uma verdadeira “ebriedade”
espiritual, mas é "sóbria". Eles não se exaltam, não se preocupam em ter
um lugar mais importante ou menos importante no incipiente Reino de
Deus. Não se preocupam nem mesmo com o final de tudo: Simeão diz que
agora o Senhor pode deixá-lo partir em paz. O que importa é que a obra
de Deus vá em frente, não importa se com eles ou sem eles.
2. Da liturgia à vida
Passemos agora da bíblia e da liturgia para a vida. Este é sempre o
objetivo da palavra de Deus. A intenção do evangelista Lucas não é
apenas narrar, mas envolver o público e arrastá-lo, como os pastores, em
procissão alegre até Belém. "Aqueles que lêem estas linhas”, diz um
exegeta moderno, “são chamados a partilhar a alegria. Apenas a
comunidade concelebrante dos crentes em Cristo pode estar à altura
desses textos" (H. Schürmann, O Evangelho de Lucas, I, Paideia, Brescia
1983).
Isto explica porque os evangelhos da infância têm pouca coisa a dizer
a quem busca neles apenas a história e ao invés muito a dizer a quem
busca também o significado da história, como faz o Santo Padre em seu
último volume sobre Jesus. São muitos os fatos acontecidos, mas não são
“históricos” no sentido alto do termo, porque não deixaram nenhum
vestígio na história, não criaram nada. Os fatos relativos ao nascimento
de Jesus são fatos históricos no sentido mais forte, não só porque
aconteceram, mas incidiram, e de forma decisiva, na história do mundo.
De onde nasce a alegria? A fonte da alegria é Deus, a Trindade. Mas
nós estamos no tempo e Deus está na eternidade: como é que a alegria
pode passar entre esses dois planos tão distantes? Se questionarmos a
bíblia, descobriremos que a fonte imediata da alegria está no tempo: é o
agir de Deus na história. Deus que age! No ponto em que "cai" uma ação
divina, é produzida uma vibração e uma onda de alegria que se espalha
pelas gerações; mais ainda, no caso de ações da Revelação, elas se
espalham para sempre.
A ação de Deus é, cada vez, um milagre que maravilha o céu e a terra:
"Exultai, ó céus, porque o Senhor agiu!”, diz o profeta. “Rejubilai,
profundezas da terra!" (Is 44, 23; 49, 13). A alegria que vem do coração
de Maria e das outras testemunhas do início da salvação se baseia toda
nesta razão: Deus ajudou Israel! Deus agiu! Deus fez grandes coisas!
Como pode, esta alegria pela ação de Deus, chegar até a igreja de
hoje e contagiá-la? Primeiro, pela memória, no sentido de que a Igreja
"relembra" as obras maravilhosas de Deus em seu favor. A Igreja é
convidada a fazer suas as palavras da Virgem: "Ele fez grandes coisas em
mim, o Todo-Poderoso". O magnificat é a canção que Maria cantou
primeiro e legou à Igreja para prolongá-la pelos séculos. Grandes
coisas, de fato, fez o Senhor pela Igreja nestes vinte séculos!
Temos, em certo sentido, mais razões objetivas para nos alegrarmos do
que Zacarias, Simeão, os pastores e toda a Igreja primitiva. Ela
começou "carregando a semente para a semeadura", como diz o Salmo 126,
mencionado acima; ela recebeu promessas, como "Eu estou convosco!", e
mandados, como "Ide pelo mundo inteiro". Já nós vimos o cumprimento. A
semente cresceu, a árvore do Reino tornou-se imensa. A Igreja de hoje é
como o semeador que "volta com alegria”.
Quantas graças, quantos santos, quanta sabedoria de doutrina e riqueza de instituições, quanta salvação operada nela e através dela! Que palavra de Cristo não encontrou cumprimento perfeito? Cumpriram-se as palavras "No mundo tereis aflições" (João 16, 33), mas também as palavras "As portas do inferno não prevalecerão" (Mt 16, 18).
Quantas graças, quantos santos, quanta sabedoria de doutrina e riqueza de instituições, quanta salvação operada nela e através dela! Que palavra de Cristo não encontrou cumprimento perfeito? Cumpriram-se as palavras "No mundo tereis aflições" (João 16, 33), mas também as palavras "As portas do inferno não prevalecerão" (Mt 16, 18).
Com que direito a Igreja pode tornar sua, perante o sem-número dos
seus filhos, a maravilha da antiga Sião e dizer: “Quem os gerou para
mim? Eu não tinha filhos e era estéril; estes, quem os criou?" (Is 49,
21). Quem, olhando para trás com os olhos da fé, não vê cumpridas
perfeitamente na Igreja as palavras proféticas sobre a nova Jerusalém,
reconstruída depois do exílio? "Levanta os olhos e olha ao teu redor:
todos eles se reúnem e vêm a ti. Teus filhos vêm de longe [...] Tuas
portas estarão abertas por sempre [...] para deixar virem a ti as
riquezas das nações" (Is 60, 4.11).
Quantas vezes a Igreja teve de alargar, nestes vinte séculos, ainda
que nem sempre rápido nem sem resistências, o "espaço da sua tenda", a
sua capacidade de acolher, de deixar entrar a riqueza humana e cultural
dos diferentes povos! Para nós, os filhos da Igreja, que nos nutrimos
"da abundância do seu seio", é que vem o chamado do profeta a nos
alegrarmos pela Igreja, "a brilhar de alegria com ela", depois de
participar do seu luto (cf. Is 66, 10).
A alegria pelo agir de Deus chega até nós, os crentes de hoje, pela
via da memória, porque vemos as grandes coisas que Deus fez por nós no
passado. Mas há outro modo, não menos importante: a via da presença,
porque vemos que, mesmo agora, no presente, Deus está agindo entre nós,
na Igreja.
Se a Igreja de hoje, no meio de todos os problemas e atribulações que
a golpeiam, quer reencontrar o caminho da coragem e da alegria, ela
deve abrir os olhos para o que Deus está hoje fazendo nela. O dedo de
Deus, que é o Espírito Santo, ainda está escrevendo na Igreja e nas
almas histórias maravilhosas de santidade, que um dia, quando
desaparecer todo pecado, farão que se olhe para o nosso tempo com
espanto e santa inveja. Fechamos os olhos, ao fazer isso, aos muitos
males que afligem a Igreja e às traições de muitos dos seus ministros?
Não. Mas se o mundo e sua mídia não destacam na Igreja nada além dessas
coisas, é bom levantarmos o olhar e vermos também seu lado bom, sua
santidade.
Em cada época, mesmo na nossa, o Espírito diz à Igreja, como no tempo
do deutero-Isaías: "Agora te narro coisa nova e secreta, de que sequer
suspeitavas. São coisas criadas agora, em vez de há muito tempo" (Is 48,
6-7). Não será que é "coisa nova e secreta" esse fôlego poderoso do
Espírito que ressuscita o povo de Deus e desperta em seu meio carismas
de todo tipo, ordinários e extraordinários? Este amor pela palavra de
Deus? Esta participação ativa dos leigos na vida da Igreja e na
evangelização? O compromisso constante do magistério e de muitas
organizações em favor dos pobres e dos que sofrem e o desejo de
consertar a unidade rompida do Corpo de Cristo? Em que época passada a
Igreja teve tal série de papas doutos e santos como de um século e meio
para cá, e tantos mártires da fé?
3. Uma relação diferente entre a alegria e a dor
Do eclesial, passamos para o existencial e pessoal. Alguns anos
atrás, houve uma campanha do ateísmo militante cujo slogan publicitário,
afixado no transporte público de Londres, dizia: "Deus provavelmente
não existe. Então pare de se atormentar e desfrute da vida!".
O mais insidioso desse slogan não é a premissa "Deus não existe" (que
precisa ser provada), mas a conclusão: "Desfrute da vida!". A mensagem
subjacente é que a fé em Deus impede as pessoas de aproveitarem a vida,
que a fé é inimiga da alegria. Sem ela haveria mais felicidade no mundo!
Precisamos dar uma resposta a essa insinuação que mantém distantes da
fé especialmente os jovens.
Jesus provocou, a propósito da alegria, uma revolução tamanha que é
difícil exagerar sobre o seu alcance e que pode ser de grande ajuda na
evangelização. É um pensamento que eu acho que já manifestei neste mesmo
lugar, mas o assunto o exige novamente. Existe uma experiência humana
universal: nesta vida, prazer e dor se sucedem com a mesma regularidade
com que, após uma onda no mar, sucede-se um mergulho e um vácuo que
aspira o náufrago de volta. "Um não-sei-quê de amargo”, escreveu o poeta
pagão Lucrécio, “surge do íntimo de cada prazer e nos angustia em meio
às delícias" (Lucrécio, De rerum natura, IV, 1129 s). O uso de
drogas, o abuso do sexo, a violência homicida, em seu momento
proporcionam a ebriedade momentânea do prazer, mas conduzem à dissolução
moral e, muitas vezes, até física da pessoa.
Cristo inverteu a relação entre prazer e dor. “Em vez da alegria, Ele
suportou a cruz" (Hebreus 12, 2). Não era mais um prazer que terminava
em sofrimento, mas um sofrimento que conduz à vida e à alegria. Não é
apenas uma ordem diferente das coisas; é a alegria, desta forma, que tem
a última palavra, e não o sofrimento; e é uma alegria que vai durar
para sempre. "Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte não
tem mais domínio sobre ele" (Romanos 6,9). A cruz termina na
Sexta-Feira Santa, mas a felicidade e a glória do domingo da
Ressurreição se estendem para sempre.
Esta nova relação entre sofrimento e prazer se reflete até na forma
de medir o tempo na bíblia. No cômputo humano, o dia começa com a manhã e
termina com a noite; na bíblia, começa com a noite e termina com o dia:
"E foi a noite e a manhã: o primeiro dia", diz o relato da criação
(Gênesis 1, 5). Na liturgia também a festa começa com as vésperas da
vigília. O que isto significa? Que, sem Deus, a vida é um dia que
termina na noite; com Deus, é uma noite, e às vezes uma "noite escura",
que termina no dia, e um dia sem ocaso.
Mas devemos evitar uma objeção fácil: a alegria, então, é apenas para
depois da morte? Esta vida, para os cristãos, não é nada mais do que um
"vale de lágrimas"? Pelo contrário: ninguém experimenta nesta vida a
verdadeira alegria como os verdadeiros crentes. Conta-se que um dia um
santo clamou a Deus: "Chega de alegria! Meu coração não pode conter mais
tanta alegria!". Os crentes, exorta o apóstolo, são "spe gaudentes",
alegres na esperança (Rm 12, 12), o que não significa apenas que eles
"esperam ser felizes" (na vida após a morte), mas também que eles "são
felizes por esperar", felizes já, agora, graças à esperança.
A alegria cristã é interior, não vem de fora, mas de dentro, como
alguns lagos alpinos que se alimentam não de um rio, mas de uma nascente
que jorra em seu próprio fundo. Nasce do agir misterioso e presente de
Deus no coração do homem em graça. Pode causar abundância de alegria até
nos sofrimentos (cf. 2 Cor 7, 4). É "fruto do Espírito" (Gl 5, 22, Rm
14, 17) e se expressa na paz do coração, na plenitude do significado, na
capacidade de amar e ser amado e, acima de tudo, na esperança, sem a
qual não pode haver alegria.
Em 1972, por sugestão de Herbert von Karajan, o Conselho da Europa
adotou como hino oficial da Europa unida a Ode à Alegria que encerra a
Nona Sinfonia de Beethoven. Trata-se, certamente, de um dos ápices da
música mundial, mas a alegria que ele canta é vaga, não realizada; é um
grito que sobe do coração humano, mais do que uma resposta que desce até
ele.
Na Ode de Schiller, que inspirou a letra do hino, lemos palavras
inquietantes: "Aqueles que sentiram a alegria de ter um amigo ou uma boa
esposa, aqueles que conheceram, ainda que apenas por uma hora, o que é o
amor, estes se aproximem! Mas quem não souber de nada disso, que se
afaste, chorando, do nosso círculo”. A alegria que os homens "bebem do
seio da natureza" não é para todos, mas apenas para alguns poucos
privilegiados pela vida.
Isto é muito distante da linguagem de Jesus, que diz: "Vinde a mim,
todos vós que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11,
28). O verdadeiro hino cristão à alegria é o magnificat de Maria. Ele
fala de uma exultação (agallìasis) do espírito pelo que Deus fez por ela e faz por todos os humildes e famintos da terra.
4. Testemunhar a alegria
Esta é a alegria que temos de testemunhar. O mundo busca a alegria.
"Só escutar o seu nome – escreve Santo Agostinho – todos se levantam e
olham para as tuas mãos, para ver se você é capaz de dar algo às suas
necessidades". Todos queremos ser felizes. É algo comum a todos, bons e
maus.
Quem é bom, é bom porque é feliz; quem é mal, só é mal porque espera,
com isso, ser feliz. Se todos nós amamos a alegria é porque, de alguma
maneira misteriosa, a conhecemos; porque se não a conhecêssemos – se não
tivéssemos sido feitos para ela -, não a amaríamos. Este desejo da
alegria é a parte do coração humano naturalmente aberta para receber a
“alegre mensagem”.
Quando o mundo bate à porta da Igreja – mesmo quando faz isso com
violência e raiva – é porque busca a alegria. Os jovens, especialmente,
procuram a alegria. O mundo ao seu redor é triste. A tristeza, por assim
dizer, nos encurrala, mais no Natal que no resto do ano. Não é uma
tristeza que depende da falta de bens materiais porque é muito mais
evidente nos países ricos do que nos países pobres.
Em Isaías lemos estas palavras, dirigidas ao povo de Deus: "eis o que
dizem vossos irmãos que vos odeiam, que vos renegam por causa de meu
nome: Que o Senhor manifeste sua glória para que vejamos vossa alegria!”
O mesmo desafio é dirigido, silenciosamente, ao povo de Deus, também
hoje. Uma Igreja melancólica e medrosa não estaria, por isso, à altura
da sua tarefa; não poderia responder às expectativas da humanidade e
sobretudo dos jovens.
A alegria é o único sinal que até mesmo os não-crentes são capazes de
receber e que pode colocá-los seriamente em crise. Não argumentos e
censuras. O testemunho mais bonito que uma esposa pode dar ao seu esposo
é um rosto alegre. Porque isso fala por si mesmo; fala que ele foi
capaz de preencher plenamente a sua vida, de fazê-la feliz. Este é
também o testemunho mais bonito que a Igreja pode dar ao seu Esposo
divino.
São Paulo, dirigindo aos cristãos de Filipos aquele convite à
alegria, que marca toda a terceira semana do Advento: “Alegrai-vos
sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!”, explica também como é possível
testemunhar, na prática, esta alegria: “Seja conhecida de todos os
homens a vossa bondade” (Fil 5, 4-5). A palavra "afabilidade” traduz
aqui um termo grego (epieikès) que indica todo um conjunto de atitudes
feito de clemência, indulgência, capacidade de saber ceder, de não ser
exigentes. (É o mesmo vocábulo do qual deriv a palavra epicheia, usada
no direito!).
Os cristãos testemunham, por isso, a alegria quando colocam em
prática estas disposições; quando, evitando toda amargura e
ressentimento inútil no diálogo com o mundo e entre si, sabem irradiar
confiança, imitando, desta maneira, a Deus, que faz chover sobre os
injustos. Quem é feliz, no geral, não é amargo, não sente a necessidade
de apontar tudo e sempre; sabe relativizar as coisas, porque conhece
algo que é maior. Paulo VI, na sua “Exortação apostólica sobre a
Alegria”, escrita nos últimos anos do seu pontificado, fala de um “olhar
positivo sobre as pessoas e sobre as coisas, fruto de um espírito
humano iluminado e do Espírito Santo”. Até mesmo dentro da Igreja, não
apenas para aqueles que estão de fora, há uma necessidade vital do
testemunho da alegria. São Paulo falava de si e dos outros apóstolos:
“Não porque pretendamos dominar sobre a vossa fé. Queremos apenas
contribuir para a vossa alegria” (2 Cor 1, 24). Que definição
maravilhosa da tarefa dos pastores na Igreja! Colaboradores da alegria:
aqueles que infundem segurança às ovelhas do rebanho de Cristo, os
capitães valorosos que, com o seu olhar tranquilo, animam os soldados
envolvidos na luta.
Em meio a provas e calamidades que afligem a Igreja, especialmente em
algumas partes do mundo, os pastores podem repetir, também hoje,
aquelas palavras que Neemias, um dia, depois do exílio, dirigiu ao povo
de Israel abatido e em lágrimas: “não haja nem aflição, nem lágrimas
[...], porque a alegria do Senhor é a vossa força" (Ne 8, 9-10).
Que a alegria do Senhor, Santo Padre, veneráveis padres, irmãos e
irmãs, seja realmente, a nossa força, a força da Igreja. Feliz Natal!
[Tradução Equipe ZENIT]
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