Artigo Dominical de Dom Pedro José Conti - bispo de Macapá
Por: Diocese de Macapá/Pascom
Santa
Melânia, filha de Marcelino, cônsul romano no ano de 341, depois que o
marido morreu, foi ter com os Padres que moravam
no deserto da Nítria, para visitar aqueles santos solitários dos quais
tinha ouvido contar maravilhas. De maneira especial, quis visitar o
Pambo, monge famoso naqueles lugares. Tendo sabido da extrema pobreza na
qual vivia o velho santo, decidiu doar-lhe algumas
vasilhas de prata, cujo peso chegava a trezentas libras. O santo estava
trabalhando, tecendo folhas de palmeira. Sem interromper o trabalho e
sem levantar os olhos, disse à senhora:
- Deus lhe pague.
Depois
ordenou ao ecônomo que distribuísse as vasilhas entre os monges pobres
da Lídia e das Ilhas. Melânia estava aguardando
que o velho lhe agradecesse e lhe desse uma benção especial, mas, sendo
que ele continuava silenciosamente com o seu trabalho, disse-lhe:
- Padre, para o senhor saber, as vasilhas de prata pesavam trezentas libras...
O monge solitário, sem manifestar alguma surpresa, respondeu:
-
Aquele, por amor do qual a senhora doou as vasilhas, não precisa
conhecer o peso delas: Ele coloca na balança montanhas e colinas.
Se a senhora as tivesse doado a mim, seria correto me dizer o peso e o
valor, mas se as ofereceu a Deus, que não despreza nem as duas
moedinhas, é melhor a senhora ficar calada!
Evidentemente
Melânia ainda não era tão santa e, do seu ponto de vista, achava certo
revelar publicamente o valor do seu presente
e cobrar o reconhecimento. Valor, por sinal, muito grande para as
medidas terrenas, mas nem tanto para o monge solitário que já estava
usando outras medidas: as de Deus.
No
evangelho deste domingo, Jesus elogia a insignificante oferta da viúva,
justamente, não pelo valor em si das moedas, mas porque
ela “deu tudo o que tinha” ao passo que os outros doaram, sim, muito
mais, mas deram daquilo que sobrava das suas riquezas. É o pouco que
vale muito aos olhos de Deus, porque é tudo o que a pessoa tem e o muito
que não vale nada, porque não faz falta nenhuma
a quem doa – é uma sobra! – e, portanto, não custa nenhuma renúncia e
nenhum sacrifício. Pior ainda quando a doação é feita para chamar a
atenção e provocar a maravilha dos homens, sempre prontos, infelizmente,
a se deixar encantar pelo brilho do ouro e da
música suave das moedas caindo nos tesouros dos templos que se sucedem,
ininterruptamente, ao longo da história da ganância humana. Mais uma
vez, Jesus nos prova que sabia ver as coisas de maneira diferente da
nossa, e que temos muito ainda para aprender até
chegar a medir o agir humano como ele mesmo media.
Uma
advertência toda especial o Mestre Jesus reservou para os seus
discípulos a respeito dos doutores da Lei, isto é, aqueles
que tinham por obrigação ensinar aos outros o seguimento correto e
honesto das normas da religião. Esses “doutores” gostavam de aparecer,
de sentar nos primeiros lugares, bem na frente, para todo mundo os
verem. Era tudo fachada. Fingiam longas orações, mas
depois aproveitavam do desamparo das viúvas para enriquecer à custa
delas. Também neste caso, o olhar de Jesus é extremamente claro: nunca
se deixa enganar pelas aparências. Deveríamos lembrar que a nossa
exterioridade pode confundir os nossos semelhantes
e até ser motivo da inveja deles, mas nunca vamos conseguir cegar o
olhar de Deus.
Todos
nós devemos ficar bem alertas para não cair nesta tentação. Já vimos,
muitas vezes, pessoas simples e humildes, tornarem-se
arrogantes e ambiciosas, logo que chegam a ocupar algum cargo na
comunidade ou mesmo na Igreja. Continua valendo, portanto, o exemplo da
viúva. Passou despercebida por causa da sua pequena oferta, mas Jesus a
elevou a modelo a ser seguido para que a nossa
generosidade não fique preocupada com os elogios humanos, mas pense
mais naquele que olha e avalia o nosso coração. Nunca é tarde para
aprender, como a senhora Melânia da nossa história, que ainda conseguiu
ser santa.
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