domingo, 11 de novembro de 2012

Voz do Pastor: Santa Melânia

Artigo Dominical de  Dom Pedro José Conti - bispo de Macapá
Por: Diocese de Macapá/Pascom
 
Santa Melânia, filha de Marcelino, cônsul romano no ano de 341, depois que o marido morreu, foi ter com os Padres que moravam no deserto da Nítria, para visitar aqueles santos solitários dos quais tinha ouvido contar maravilhas. De maneira especial, quis visitar o Pambo, monge famoso naqueles lugares. Tendo sabido da extrema pobreza na qual vivia o velho santo, decidiu doar-lhe algumas vasilhas de prata, cujo peso chegava a trezentas libras. O santo estava trabalhando, tecendo folhas de palmeira. Sem interromper o trabalho e sem levantar os olhos, disse à senhora:
 - Deus lhe pague.
 Depois ordenou ao ecônomo que distribuísse as vasilhas entre os monges pobres da Lídia e das Ilhas. Melânia estava aguardando que o velho lhe agradecesse e lhe desse uma benção especial, mas, sendo que ele continuava silenciosamente com o seu trabalho, disse-lhe:

- Padre, para o senhor saber, as vasilhas de prata pesavam trezentas libras...
O monge solitário, sem manifestar alguma surpresa, respondeu:
- Aquele, por amor do qual a senhora doou as vasilhas, não precisa conhecer o peso delas: Ele coloca na balança montanhas e colinas. Se a senhora as tivesse doado a mim, seria correto me dizer o peso e o valor, mas se as ofereceu a Deus, que não despreza nem as duas moedinhas, é melhor a senhora ficar calada! 
Evidentemente Melânia ainda não era tão santa e, do seu ponto de vista, achava certo revelar publicamente o valor do seu presente e cobrar o reconhecimento. Valor, por sinal, muito grande para as medidas terrenas, mas nem tanto para o monge solitário que já estava usando outras medidas: as de Deus.
No evangelho deste domingo, Jesus elogia a insignificante oferta da viúva, justamente, não pelo valor em si das moedas, mas porque ela “deu tudo o que tinha” ao passo que os outros doaram, sim, muito mais, mas deram daquilo que sobrava das suas riquezas. É o pouco que vale muito aos olhos de Deus, porque é tudo o que a pessoa tem e o muito que não vale nada, porque não faz falta nenhuma a quem doa – é uma sobra! – e, portanto, não custa nenhuma renúncia e nenhum sacrifício. Pior ainda quando a doação é feita para chamar a atenção e provocar a maravilha dos homens, sempre prontos, infelizmente, a se deixar encantar pelo brilho do ouro e da música suave das moedas caindo nos tesouros dos templos que se sucedem, ininterruptamente, ao longo da história da ganância humana. Mais uma vez, Jesus nos prova que sabia ver as coisas de maneira diferente da nossa, e que temos muito ainda para aprender até chegar a medir o agir humano como ele mesmo media.
Uma advertência toda especial o Mestre Jesus reservou para os seus discípulos a respeito dos doutores da Lei, isto é, aqueles que tinham por obrigação ensinar aos outros o seguimento correto e honesto das normas da religião. Esses “doutores” gostavam de aparecer, de sentar nos primeiros lugares, bem na frente, para todo mundo os verem. Era tudo fachada. Fingiam longas orações, mas depois aproveitavam do desamparo das viúvas para enriquecer à custa delas. Também neste caso, o olhar de Jesus é extremamente claro: nunca se deixa enganar pelas aparências. Deveríamos lembrar que a nossa exterioridade pode confundir os nossos semelhantes e até ser motivo da inveja deles, mas nunca vamos conseguir cegar o olhar de Deus.
Todos nós devemos ficar bem alertas para não cair nesta tentação. Já vimos, muitas vezes, pessoas simples e humildes, tornarem-se arrogantes e ambiciosas, logo que chegam a ocupar algum cargo na comunidade ou mesmo na Igreja. Continua valendo, portanto, o exemplo da viúva. Passou despercebida por causa da sua pequena oferta, mas Jesus a elevou a modelo a ser seguido para que a nossa generosidade não fique preocupada com os elogios humanos, mas pense mais naquele que olha e avalia o nosso coração. Nunca é tarde para aprender, como a senhora Melânia da nossa história, que ainda conseguiu ser santa.

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