Artigo Dominical de Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá - Festividade de Todos sos Santos
MACAPÁ(AP) - Finalmente,
após dois anos de espera, o casal ia ganhar o filho tão desejado.
Tinham recebido o decreto de adoção e podiam ir ao Instituto para buscar
a criança. Antes de viajar,
cheios de alegria e trepidação, ainda deram uma última olhada a casa
para ver se tudo estava pronto para receber o novo hospede. O berço
tinha sido colocado no meio do quarto e estava lindo. À noite já
estariam de volta, e a casa não seria mais a mesma. No
Instituto, muitas outras pessoas, da mesma forma que os dois, estavam
aguardando as crianças.
- Eu quero uma menina e deve ser loura.
- Eu gostaria ter uma criança com seis meses.
- Eu...
O
casal ouviu tudo em silêncio. Depois se olharam e logo se entenderam,
porque o amor não precisa de muitas palavras. Esperaram que todos
tivessem ido embora com as crianças que
tinham escolhido. A enfermeira lhes perguntou:
- E vocês, como querem a criança? Menino ou menina? Recém-nascido ou com alguns meses?
Os dois se olharam novamente e responderam juntos:
- Queremos a criança que todos recusaram.
No
domingo de Todos os Santos, uma pequena história de generosidade e,
talvez, de heroísmo. Tudo isso para lembrar que a santidade não está
reservada somente a alguns ou que seja
questão de grandes obras. No entanto, a santidade, sempre deve ter algo
de novo e de especial. Pode ser o trabalho cotidiano, mas vivido com
dedicação e desprendimento; pode ser algo de urgente a ser realizado ou,
ainda, uma responsabilidade que poucos – ou
ninguém - teriam coragem de assumir. O importante é que seja feito com
amor e por amor.
Por
isso, a Igreja nunca vai deixar de apontar, como exemplos, cristãos que
se distinguiram por alguma intuição e resposta corajosa a situações
graves e urgentes que precisavam encontrar
um novo rumo. Foi assim que, ao longo dos séculos, apareceram homens e
mulheres que, muitas vezes, não foram bem entendidos naquele momento,
porém depois se revelaram como profetas de novos tempos. Em épocas de
crise, houve Santos reformadores; em momentos
de dúvidas, Santos Doutores; em situações de carência, Santos e Santas
totalmente entregues aos pobres, aos sofredores, aos excluídos daquele
tempo. Sem falar dos mártires por causa da fé, conhecidos e
desconhecidos, fiéis até o fim. Muitos Santos e Santas
sonharam com outros povos, raças e culturas diferentes, assim
escolheram dedicar-se à evangelização sem fronteiras. A caridade, o
desejo de ajudar os pequenos, a vontade de partilhar a alegria do
Evangelho sempre animaram e devem animar os cristãos de todos
os tempos. O Espírito Santo nunca deixa faltar os dons e a coragem
necessária. Basta prestar mais atenção ao chamado do Senhor, ao grito
dos pobres e marginalizados. Precisa responder, saindo do próprio
comodismo e abrindo caminhos novos.
Hoje
se fala de Santos de calça jeans, de Santos conectados, de Santos
ecológicos. Por que não? A obra da evangelização sempre precisará de
novos operários. Também novas pobrezas
e exclusões aparecem numa sociedade egoísta e gananciosa, ainda incapaz
de resolver problemas mundiais como a fome e a miséria de milhões de
serem humanos.
Mudam
as situações, os meios, os recursos e, evidentemente, os protagonistas,
mas o mesmo ardor deve animar a cada geração. Santidade não é questão
do passado, menos ainda de modas
passageiras; santidade é questão de coragem em viver seriamente e com
alegria a fé cristã. Na disputa entre o bem e o mal, entre a indiferença
e o compromisso, entre o vazio e o querer dar um sentido à própria
vida, sempre haverá espaço para fazer o bem, para
vencer barreiras, construir a paz, anunciar a esperança, testemunhar o
amor desinteressado e total. Sempre será possível amar alguém que todos
recusam ou que os outros não enxergam. É assim que começa a santidade
cristã.
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