Artigo dominical de Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá
Por Pascom
Um
dia, os macacos do jardim zoológico decidiram fazer um passeio de
instrução. Andaram, andaram, pararam, e um macaco perguntou:
- O que é que estão vendo?
- A jaula do leão, o tanque das focas e a casa da girafa.
- Como é grande o mundo e como a gente aprende viajando!
Retomaram o caminho e pararam somente ao meio dia:
- O que estão vendo agora?
- A casa da girafa, o tanque das focas e a jaula do leão.
- Como o mundo é esquisito, e como é instrutivo viajar!
Retomaram a caminhada e pararam somente ao pôr do sol.
- O que tem ainda para ver?
- A jaula do leão, a casa da girafa e o tanque das focas.
- Como é chato o mundo. Enxergam-se sempre as mesmas coisas e viajar não serve mesmo para nada!
É isso mesmo, viajaram, viajaram, mas não tinham saído da jaula, ficaram só girando ao redor como os cavalos do carrossel.
Os
pobres macacos estavam presos e não podiam ver nada mais além daquilo
que era visível, a partir da jaula deles. Podiam caminhar o tanto que
queriam, mas, no final, não teriam ido muito longe. Pode ser uma
parábola da nossa vida. O tempo passa e a nossa vida passa com ele. Se
não sabemos o porquê das coisas e não temos um horizonte maior, acabamos
rodando nas prisões que nós mesmos construímos. Existem prisões
douradas, cheias do conforto e de mordomias, onde a vida parece uma
maravilha e acabamos não querendo mais sair. Outras vezes, desistimos de
buscar, conformando-nos com a situação na qual, pensamos, o destino nos
colocou. Existe a prisão do nosso orgulho, de quem se ilude de saber
tudo e, por isso, de ter o mundo todo aos seus pés. Existem ideias
e pré-conceitos que também podem nos prender. Achamos impossíveis
certas situações e, portanto, nunca admitimos que possam acontecer. Uma
religião vivida com medo, com esquemas rigorosos e excludentes, pode ser
também uma prisão. Talvez confortável como um seguro de vida, mas
sempre uma prisão. O que nos falta para enxergar mais longe e nos
libertar das jaulas que construímos ao nosso redor?
Chegando
ao final do ano litúrgico, somos convidados a pensar no fim das coisas.
O fim pode ser simplesmente a conclusão, mas pode ser também a
finalidade, o sentido de tudo aquilo que acontece, ou que nós fazemos
acontecer. Em geral, nós todos ficamos mais preocupados com a conclusão
da nossa vida do que com o sentido da mesma. Daí as especulações sobre
“o fim do mundo”. Jesus, porém, não quis marcar prazos, achou melhor
apontar sinais para nos deixar vigilantes, acordados e sempre em busca
de algo melhor. Na procura do sentido da vida, quando as coisas e as
pessoas ao nosso redor vão mudando continuamente, podemos contar com as
suas palavras que “não passarão”. Ter fé, para os cristãos, é arriscar a
vida confiando nessas palavras.<
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A
opção é sempre entre o conforto das nossas seguranças – dinheiro,
posição social, prestígio – que no final nos aprisionam, ou a incerteza
da aventura da fé. Amar mais é sempre um risco. Quem vai saber do bem
que fazemos? Dar atenção aos pobres, aos pequenos e aos excluídos da
vida, não dá retorno algum em termos de contas bancárias. Defender a
verdade, a honestidade, buscar uma consciência pura e simples, faz que
sejamos julgados como idealistas, iludidos, sem algum senso prático, sem
jogo de cintura. Gastar a vida por causa do Evangelho, doar ao menos um
pouco do nosso ter e do nosso saber para ajudar e dar dignidade a quem
não tem e a quem não sabe, para muitos, é ter perdido definitivamente o
juízo.
Jesus,
por amor, foi obediente até a morte e a morte de cruz. Foi o homem mais
“servo” e, ao mesmo tempo, mais livre. Tão livre de poder nos libertar
do pecado e da morte. Quem confia na sua palavra consegue enxergar além
deste mundo, desta história que passa. Tem um olhar de eternidade.
Encontrou o sentido de tudo e a liberdade.
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