domingo, 18 de novembro de 2012

Voz do Pastor: O passeio dos macacos

Artigo dominical de Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá
Por Pascom
 
Um dia, os macacos do jardim zoológico decidiram fazer um passeio de instrução. Andaram, andaram, pararam, e um macaco perguntou:
 - O que é que estão vendo?
- A jaula do leão, o tanque das focas e a casa da girafa.
- Como é grande o mundo e como a gente aprende viajando! 
 Retomaram o caminho e pararam somente ao meio dia:
 - O que estão vendo agora?
- A casa da girafa, o tanque das focas e a jaula do leão.
- Como o mundo é esquisito, e como é instrutivo viajar! 
Retomaram a caminhada e pararam somente ao pôr do sol.
 - O que tem ainda para ver?
- A jaula do leão, a casa da girafa e o tanque das focas.
- Como é chato o mundo. Enxergam-se sempre as mesmas coisas e viajar não serve mesmo para nada!

É isso mesmo, viajaram, viajaram, mas não tinham saído da jaula, ficaram só girando ao redor como os cavalos do carrossel.
Os pobres macacos estavam presos e não podiam ver nada mais além daquilo que era visível, a partir da jaula deles. Podiam caminhar o tanto que queriam, mas, no final, não teriam ido muito longe. Pode ser uma parábola da nossa vida. O tempo passa e a nossa vida passa com ele. Se não sabemos o porquê das coisas e não temos um horizonte maior, acabamos rodando nas prisões que nós mesmos construímos. Existem prisões douradas, cheias do conforto e de mordomias, onde a vida parece uma maravilha e acabamos não querendo mais sair. Outras vezes, desistimos de buscar, conformando-nos com a situação na qual, pensamos, o destino nos colocou. Existe a prisão do nosso orgulho, de quem se ilude de saber tudo e, por isso, de ter o mundo todo aos seus pés. Existem ideias e pré-conceitos que também podem nos prender. Achamos impossíveis certas situações e, portanto, nunca admitimos que possam acontecer. Uma religião vivida com medo, com esquemas rigorosos e excludentes, pode ser também uma prisão. Talvez confortável como um seguro de vida, mas sempre uma prisão. O que nos falta para enxergar mais longe e nos libertar das jaulas que construímos ao nosso redor?
Chegando ao final do ano litúrgico, somos convidados a pensar no fim das coisas. O fim pode ser simplesmente a conclusão, mas pode ser também a finalidade, o sentido de tudo aquilo que acontece, ou que nós fazemos acontecer. Em geral, nós todos ficamos mais preocupados com a conclusão da nossa vida do que com o sentido da mesma. Daí as especulações sobre “o fim do mundo”. Jesus, porém, não quis marcar prazos, achou melhor apontar sinais para nos deixar vigilantes, acordados e sempre em busca de algo melhor. Na procura do sentido da vida, quando as coisas e as pessoas ao nosso redor vão mudando continuamente, podemos contar com as suas palavras que “não passarão”. Ter fé, para os cristãos, é arriscar a vida confiando nessas palavras.< /p>
A opção é sempre entre o conforto das nossas seguranças – dinheiro, posição social, prestígio – que no final nos aprisionam, ou a incerteza da aventura da fé. Amar mais é sempre um risco. Quem vai saber do bem que fazemos? Dar atenção aos pobres, aos pequenos e aos excluídos da vida, não dá retorno algum em termos de contas bancárias. Defender a verdade, a honestidade, buscar uma consciência pura e simples, faz que sejamos julgados como idealistas, iludidos, sem algum senso prático, sem jogo de cintura. Gastar a vida por causa do Evangelho, doar ao menos um pouco do nosso ter e do nosso saber para ajudar e dar dignidade a quem não tem e a quem não sabe, para muitos, é ter perdido definitivamente o juízo.
Jesus, por amor, foi obediente até a morte e a morte de cruz. Foi o homem mais “servo” e, ao mesmo tempo, mais livre. Tão livre de poder nos libertar do pecado e da morte. Quem confia na sua palavra consegue enxergar além deste mundo, desta história que passa. Tem um olhar de eternidade. Encontrou o sentido de tudo e a liberdade.

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