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Montagem sobre foto: Blog Jefferson Souza |
Por PASCOM
Na religião hinduísta, os
gurus são uma espécie de guias espirituais muito respeitados. Conta uma
história que, certo dia, antes de visitar um famoso santuário da sua
religião, um guru, bem macilento, entrou numa
barbearia. Imediatamente o barbeiro, que estava tirando a barba de um
homem gordo e flórido, largou o cliente que estava atendendo e, com toda
atenção e deferência, fez um serviço completo e caprichado para o guru.
Depois disso, ainda lhe deu algumas moedas
pedindo que rezasse por ele e sua família.
O guru, agradecido, decidiu
em seu coração que recompensaria o barbeiro, tão atencioso, com as
esmolas que ia recolher naquele dia. Depois de algumas horas, um
desconhecido aproximou-se do guru e lhe deu um saquinho
cheio de moedas de ouro. O guru, conforme tinha prometido em seu
coração, correu com o barbeiro e lhe ofereceu o pequeno tesouro. No
entanto o barbeiro mostrou-se ofendido e disse:
- O que é isso? O senhor, que deveria ser um santo, não se envergonha de querer me pagar um serviço que fiz por amor a Deus?
Um exemplo de generosidade
do barbeiro e de desprendimento por parte de ambos, visto que nenhum dos
dois deu muito valor às moedas de ouro. Com efeito, um trabalho, para
ser serviço verdadeiro, deve andar junto com
a gratuidade e a disponibilidade. Se for pago, já se torna negócio; se
for mal feito, revela má vontade por parte de quem o oferece.
No entanto, no evangelho
deste domingo, Jesus nos ensina que o serviço generoso e gratuito deve
estar também junto com o poder e a autoridade. Se os grandes do mundo
oprimem e tiranizam as nações, entre os discípulos
de Jesus não pode ser assim. As coisas devem ser muito diferentes. Quem
quer ser o primeiro seja-o no serviço, tornando-se servo de todos.
Em geral, ter poder é
sinônimo de mandar e, para quem não o tem, significa submissão e
obediência. Esta maneira de pensar está tão enraizada em nós que é muito
difícil imaginar uma autoridade que não possa mandar.
Afinal, se ele não pode impor a sua vontade, que poderoso é?
Jesus sempre nos desafia
porque nos propõe algo de verdadeiramente novo, muito diferente da
maneira de pensar e de agir dos grandes e poderosos do mundo, que se
acham donos de tudo. O que está em questão não é a
autoridade em si; sendo legítima e honesta ela deve existir e exercer a
sua função. Jesus propõe que esta autoridade não se transforme em
autoritarismo. Ele pede que seja um serviço para o bem de todos, de
maneira especial para os pobres e os excluídos das
benesses da sociedade. Ocupar um cargo de responsabilidade não deve ser
entendido como um poder incondicional e, portanto, opressor, resultado
de ambições e disputas onde vale tudo para conquistá-lo. Ao contrário do
orgulho humano, que visa ocupar os primeiros
lugares para sentir-se importante, admirado e bajulado, Jesus propõe o
último lugar, o lugar daquele que, antes de pensar em si, serve a todos.
Perguntamo-nos: será
possível ocupar fisicamente os primeiros lugares e agir,
espiritualmente, como alguém que não promove a si mesmo, mas coloca em
primeiro lugar na sua vida o bem dos outros? É muito difícil, mas
nada é impossível para Deus. Por isso, Jesus pede que o seu projeto de
serviço comece, ao menos, entre os seus discípulos.
Não tem como não lembrar,
neste momento, também as autoridades na Igreja, começando pelos padres,
passando pelos bispos, até o Papa, incluindo os superiores e superioras
das famílias religiosas, leigos e leigas responsáveis
de pastorais, movimentos e comunidades. Evidentemente sempre pode ter
alguém que planeje, também em nossos dias, uma possível carreira
eclesiástica, que seja um pastor ganancioso, centralizador e
autoritário, alguém que busque a sua autopromoção. No entanto
acredito que devemos reconhecer a generosidade e a dedicação da grande
maioria das pessoas consagradas e comprometidas. Com efeito, não tem
ouro que pague o amor e a dedicação de tantos irmãos e irmãs,
integralmente devotados às suas comunidades, à suas paróquias,
às obras da caridade.
Como o barbeiro que não
quis receber recompensa por um serviço que havia feito por amor a Deus. O
bem, feito por amor, é a própria recompensa para quem se entrega ao
serviço sem reservas. E no amor vivido está presente
o próprio Deus que, por sua vez, se doa sempre como prêmio
incalculável.
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